Cipriano (c. 200-258 d.C.) foi um bispo e mártir cristão do século III, conhecido por seu papel significativo na consolidação da Igreja na África do Norte e na defesa da unidade e disciplina eclesiástica. Ele é venerado como santo tanto pela Igreja Católica quanto pela Igreja Ortodoxa, sendo um dos mais importantes Padres da Igreja latina. Cipriano foi um defensor firme da autoridade episcopal e da disciplina eclesiástica, especialmente durante os tempos de perseguição e controvérsia na Igreja.
Vida de Cipriano
Cipriano nasceu por volta de 200 d.C. em Cartago, no norte da África (atual Tunísia). Ele era de uma família rica e recebeu uma educação de alto nível, tornando-se um advogado e professor de retórica antes de sua conversão ao cristianismo por volta de 245 d.C. Inspirado pelo exemplo dos cristãos que haviam sofrido martírio e pelas palavras da Bíblia, Cipriano foi batizado e, após sua conversão, distribuiu grande parte de sua riqueza para os pobres.
Devido à sua erudição, zelo e habilidades administrativas, Cipriano rapidamente subiu nas fileiras da Igreja e foi eleito Bispo de Cartago em 248 ou 249 d.C., apenas três anos após sua conversão. Sua eleição foi controversa, pois alguns consideravam sua ascensão rápida demais, mas ele logo demonstrou ser um líder capaz e influente.
Obras e Teologia
Cipriano é conhecido por seus escritos teológicos e cartas pastorais que tratam de vários temas da vida da Igreja, como unidade, disciplina e a natureza do arrependimento e da reconciliação. Suas obras principais incluem:
- “De Ecclesiae Unitate” (Sobre a Unidade da Igreja): Nesta obra, Cipriano defende veementemente a unidade da Igreja e a autoridade do bispo. Ele argumenta que fora da comunhão com a Igreja e seus bispos, não há salvação, um princípio que foi central em seu pensamento. Ele também rejeita a ideia de que o batismo pode ser administrado fora da Igreja.
- “De Lapsis” (Sobre os Caídos): Após a perseguição de Décio (250-251 d.C.), muitos cristãos que haviam negado sua fé (chamados de “lapsi”) procuraram retornar à Igreja. Cipriano escreveu esta obra para tratar da questão da reconciliação daqueles que haviam caído na perseguição. Ele defendeu uma abordagem equilibrada que exigia arrependimento genuíno antes da reintegração plena.
- “De Mortalitate” (Sobre a Mortalidade): Esta obra foi escrita durante uma praga devastadora que atingiu Cartago. Cipriano oferece consolo e encorajamento aos cristãos, lembrando-os da esperança cristã na ressurreição e da importância de permanecerem firmes na fé.
- Cartas Pastorais: Cipriano escreveu muitas cartas para orientar e aconselhar clérigos e leigos em questões práticas e teológicas. Suas cartas oferecem um valioso testemunho sobre a vida da Igreja e as controvérsias teológicas e disciplinares da época.
Controvérsias e Perseguições
Cipriano viveu em tempos de intensas perseguições aos cristãos. Durante a perseguição de Décio (250-251 d.C.), ele se escondeu para proteger sua vida, o que foi criticado por alguns que achavam que ele deveria ter buscado o martírio. No entanto, ele continuou a liderar a Igreja à distância e a escrever cartas para orientar os fiéis.
Outra grande controvérsia enfrentada por Cipriano foi a questão dos “lapsi” — aqueles que renunciaram à fé durante a perseguição. Ele se opôs tanto à readmissão automática quanto à exclusão permanente dos lapsi, defendendo um caminho de reconciliação que envolvia penitência.
Durante o período de sua liderança, ele também entrou em conflito com o Papa Estêvão I sobre a validade do batismo realizado por hereges. Cipriano sustentava que o batismo realizado fora da Igreja era inválido, enquanto o Papa Estêvão defendia sua validade se realizado em nome da Trindade. A controvérsia foi significativa, mas não levou a uma ruptura formal.
Martírio
Cipriano foi martirizado durante a perseguição de Valeriano em 258 d.C. Ele foi preso, julgado e condenado à morte por sua fé. Recusando-se a renunciar ao cristianismo, ele foi decapitado fora de Cartago. Suas últimas palavras registradas foram: “Deo gratias” (“Graças a Deus”).
Legado
São Cipriano de Cartago é lembrado por sua firmeza na liderança e pela defesa da unidade e autoridade da Igreja. Seu pensamento teológico influenciou profundamente a Igreja primitiva, especialmente em questões de eclesiologia (a natureza da Igreja) e disciplina. Sua ênfase na unidade da Igreja sob a autoridade dos bispos continua a ser um ponto de referência importante na teologia e na prática eclesiástica cristã.
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